A importância da estratégia para as empresas de importação de bens essenciais

Não é novidade que o Brasil é um país desafiador, em que Heads de grandes operações se deparam com diversas adversidades e possuem a necessidade de ter mais de um plano. Além disso, a formação de comitês, projeções, revisão de processos internos, maior eficiência, automação interna e mecanismos anti-crise, acabam fazendo parte da rotina das empresas, visando sempre minimizar os impactos sofridos. Para que isso seja realizado da melhor maneira possível, uma palavra não pode faltar no nosso dia-a-dia: estratégia! 

Um exemplo que podemos dar, é o da crise causada pelo COVID-19, em que os produtos classificados como essenciais se tornaram cada vez mais importantes para os consumidores, não podendo ficar em falta.  

Um dos produtos que tiveram maior aumento na demanda, foram, por exemplo, os insumos hospitalares, que registraram um crescimento de mais de 100%! Pegando o exemplo do álcool em gel, conseguimos observar esse aumento das produções, que em janeiro, possuía média de fabricação de 120mil embalagens e, em março, atingiu a marca de 6 milhões de frascos produzidos! 

Quando voltamos para cadeia inicial da produção de álcool em gel, grandes indústrias quintuplicaram a produção, porém, se depararam com um grande problema: a falta de matéria-prima, como, por exemplo, o carbopol, produto que estava em falta no mercado mundial.  

O carbopol foi só um exemplo de como a estratégia é necessária no nosso dia-a-dia para evitar o desabastecimento das indústrias nacionais. Afinal, diversos produtos de fabricação interna, dependem de uma matéria-prima importada, exigindo uma readaptação de nossas indústrias em tempos de crise, como a que vivemos atualmente. 

Como o Brasil é um fornecedor de commodities, em termos de escala, as opções de consumo localmente são baixas para alguns produtos de alto valor agregado, tornando o nosso país pouco atrativo na migração de empresas externas.  Embora algumas commodities sejam compradas localmente, o fato de serem negociadas a preço de dólar, exige de muitas empresas uma forte articulação com os fornecedores, que lidam com a volatilidade cambial e, consequentemente, acabam repassando os custos. Essa é uma realidade interna justamente pelo Brasil ser um país emergente e que sofre muito com a desvalorização da moeda. 

Para continuar mantendo seu market share, uma das estratégias foi a estocagem em grande escala dos insumos, dando um folego de 2 ou 3 meses para as tomadas de decisões. Houve também homologação de novos fornecedores locais como backup. Porém, outro obstáculo surgiu, que é a adaptação de maquinário.  Isso causou para a maioria das fábricas de produtos químicos, uma elevação de seus custos e, consequentemente, aumento do seu preço. Além disso, outro desafio foi referente à especificação técnica do produto e sua certificação do nível de qualidade dos novos insumos, o que também pode gerar impactos no produto final. 

Por isso, se viu cada vez mais necessário encontrar um fornecedor que atenda a todos os pré-requisitos de qualidade. Outra necessidade do mercado foi a antecipação das demandas através de índices de projeções executadas pelo planejamento financeiro das empresas. Neste caso, os profissionais de planning, se tornaram um dos cargos mais requisitados durante a crise, algo que conseguimos observar durante o fórum entre CFOs Latam, realizado por nós na segunda semana de julho.  

A alta demanda também gerou alguns impactos e preocupação com os portos de recebimento e saída na logística de importação, esbarrando na falta de mão de obra. Um dos planos criados para contornar esse problema é garantir um estoque acima do normal, criando galpões de abastecimento no país de produção ou em algum parceiro comercial.  

Como conseguimos observar nos casos acima, o uso da estratégia se fez presente e garantiu que as empresas conseguissem manter sua produção e, em alguns casos, como os dos insumos hospitalares, permitiu que houvesse um aumento, possibilitando atender à demanda do mercado.  

Muitas empresas têm enxugado suas estruturas devido à crise, por isso, a resiliência e o protagonismo estão sendo cada vez mais exigidos! Mostramos vários exemplos de que há muitas oportunidades para sugestão de novas estratégias e levar essas soluções para prevenir problemas no momento de crise é a grande missão para o profissional de finanças. Pensar fora da caixa e estar cada vez mais atento aos indícios que o mercado demonstra também é essencial.  

Essa é a hora não só de pôr em prática os skills mais apurados, como também de desenvolver novas habilidades e sugerir melhorias dentro de processos que ainda não estão 100% redondos. Exercitar essas estratégias vai sem dúvidas proporcionar uma maior evidência dentro da companhia além de ser uma grande oportunidade de deixar um legado diante de uma crise que sem dúvidas, sairemos melhores e mais completos. 

Escrito por Viviane Pereira, Consultant Banking, Finance & Tax Spring Professional